terça-feira, 18 de março de 2014

Carta Mensal - Janeiro de 2014

            Tournay, 30 de dezembro de 2013.
À todos vós que procurais a paz :
Paz !
O Papa Francisco escolheu como tema para este dia 1 de janeiro de 2014 a Jornada Mundial da Paz: « A fraternidade, fundamento e caminho para a paz ». A meditação desta mensagem poderá muito bem orientar a nossa prece pela paz neste primeiro dia do ano novo.
O ponto de partida desta reflexão do papa é a existência, em cada um de nós, de uma «sede incontornável de fraternidade, que leva à comunhão com os outros, na qual nós não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que nos acolhem e abraçam.» No entanto esta vocação é negada por uma «globalização da indiferença, que nos faz aos poucos nos habituarmos com o sofrimento do outro, nos fechando em nós mesmos », num mundo em que falta a referencia a um Pai comum, fundamento último da fraternidade entre os homens (n° 1). Se Caim simboliza a recusa da responsabilidade pelos nossos irmãos (n° 2), Cristo, no seu abandono à morte pelo amor ao Pai, reconcilia em si mesmo todos os homens (n° 3). A paz é compreendida como um movimento de solidariedade para com todos, especialmente os mais pobres, amados « como a imagem viva de Deus o Pai, resgatado pelo sangue do Cristo e objeto de ação constante do Espírito Santo » (n° 4).  Assim a fraternidade se apresenta como um caminho para vencer a pobreza, seja « pela redescoberta e pela valorização das relações fraternas no seio das famílias e das comunidades », seja através de políticas eficazes « que assegurem à todos sua dignidade e seus direitos fundamentais », seja ainda através de « estilos de vida sóbrios e baseados sobre o essencial » (n° 5). A grave crise financeira e econômica contemporânea pode também ser uma oportunidade para encontrarmos um modelo de economia mais fraternal (n° 6). Da mesma maneira, a fraternidade se apresenta como uma alternativa para resolver os conflitos humanos, na medida em que redescobrirmos como um irmão aquele que hoje consideramos como um inimigo a ser eliminado: o que exige um esforço firme « em favor da não proliferação das armas e do desarmamento da parte de todos, começando pelo desarmamento nuclear e químico », assim como, com uma conversão dos corações (n° 7). Um autêntico espírito de fraternidade pode impedir múltiplas formas de corrupção, como o tráfico ilícito de dinheiro, de drogas, de pessoas e órgãos humanos, etc. (n° 8). Enfim, uma ética de fraternidade se estende também à natureza, na utilização racional dos recursos em benefício de todos, de maneira que todos sejam libertos da fome (n° 9). « O realismo necessário da política e da economia não pode se reduzir à uma técnica privada de ideal, que ignora a dimensão transcendental do homem » : é somente na abertura à Ele, que ama cada homem e cada mulher, que a política e a economia poderão ser um instrumento eficaz de desenvolvimento humano integral e de paz (n° 10).
Para que as palavras do Papa Francisco sejam acolhidas por todos, rezemos assim, usando as suas palavras:
 Ó Deus da Paz, « o Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, que dizer,  possibilidade de participar de sua vida. (…) Esta boa nova reclama de cada de nós um passo a mais, um exercício persistente de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, incluindo o sofrimento daquele que está mais longe de mim, engajando-nos no caminho exigente do amor que sabe se doar e se dedicar gratuitamente pelo bem de todo irmão e toda irmã. Que Maria, Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a fraternidade que surge do coração do seu Filho, para trazer a paz à todo homem sobre nossa terra bem-amada ». Amém.
Com os votos de um ano novo abençoado!
Dom Irineu Rezende Guimarães
monge beneditino, Abadia Notre-Dame, Tournay, França

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