sexta-feira, 5 de abril de 2013

Carta Mensal - Abril de 2013

Tournay, 31 de março de 2013.

A vocês todos que buscam a paz,
                        Paz!
No dia onze deste mês de abril, celebramos o quinquagésimo aniversário da publicação de um dos documentos que mais contribuíram para a paz mundial em nosso tempo. Trata-se da encíclica “Pacem in Terris” (Paz na Terra), do Papa João XXIII, que morreria pouco  menos de dois meses depois, a 3 de junho de 1963. Dirigida não somente à Igreja, mas também “a todas as pessoas de boa vontade” – fato inédito num documento papal até então –, a encíclica se propõe a refletir sobre “a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade ». No seu primeiro parágrafo, deixa claro a sua proposta : “A paz na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus” (§ 1). E no seu desenvolvimento, mostrará que esta ordem querida por Deus (§ 1-7) deve se manifestar no respeito dos direitos e deveres humanos (§ 8-45), por uma relação democrática entre os cidadãos de uma mesma nação (§ 46-79), por relações de cooperação e de dialogo entre as nações (§ 80-128) e pela participaçao de todos em vista de uma convivência unitária de alcance mundial (§ 129-144).

No contexto da época, no auge da guerra fria e da ameaça de uma guerra atômica entre Estados Unidos e União Soviética, “Pacem in Terris” deu uma importante contribuição para a paz, contribuindo para a superação do impasse criado. O Papa chamou a humanidade à consciência ao afirmar “que as eventuais controvérsias entre os povos devem ser dirimidas com negociações e não com armas” (§ 125). João XXIII proclamou claramente que “não é mais possível pensar que nesta nossa era atômica a guerra seja um meio apto para ressarcir direitos violados” (§ 126). E não hesitou em denunciar os perigos da corrida armamentista e da doutrina da dissuasão nuclear: “o resultado é que os povos vivem em terror permanente, como sob a ameaça de uma tempestade que pode rebentar a cada momento em avassaladora destruição. Já que as armas existem e, se parece difícil que haja pessoas capazes de assumir a responsabilidade das mortes e incomensuráveis destruições que a guerra provocaria, não é impossível que um fato imprevisível e incontrolável possa inesperadamente atear esse incêndio” (§ 111).

“Pacem in Terris” deve ser també compreendida como o testamento espiritual deste papa admirável à Igreja, contribuindo para colocar a paz no centro da consciência cristã, como responsabilidade de cada batizado e da Igreja em seu todo (§ 145-171). Rezemos, particularmente, nesta intenção, para que a paz esteja não somente no centro das preocupações dos papas e dos documentos da Igreja, mas de cada cristão e de cada homem de boa vontade. E o façamos com as próprias palavras de João XXIII:

Senhor Jesus Cristo Ressuscitado, que dissestes aos teus discípulos: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá" (Jo 14,27), afasta dos corações dos homens tudo quanto pode pôr em perigo a paz, transformando a todos em testemunhas da verdade, da justiça e do amor fraterno. Ilumina com tua luz a mente dos responsáveis dos povos, para que, junto com o justo bem-estar dos próprios concidadãos, lhes garantam o belíssimo dom da paz. Inflama, Cristo, a vontade de todos os seres humanos para abaterem barreiras que dividem, para corroborarem os vínculos da caridade mútua, para compreenderem os outros, para perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias. Sob a inspiração da tua graça, tornem-se todos os povos irmãos e floresça neles e reine para sempre essa tão suspirada paz (Cf. § 169-170). Amém.

Com amizade, ainda na alegria da Páscoa!

D. Irineu Rezende Guimarães
monge beneditino da Abadia Nossa Senhora, Tournay, França