quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Carta Mensal - Janeiro de 2013



Tournay, 20 de dezembro de 2012.
A vocês todos EM BUSCA DA PAZ,
                        Paz!
O Papa Bento XVI escolheu como tema para este 1º de janeiro de 2013, Dia Mundial da Paz, “Bem-aventurados os obreiros da paz” (Mt 5,9). Assim quero convidar vocês a rezar para que estas palavras do Cristo se concretizem em cada um de nós, em todos os seguidores do Cristo, em todos que buscam a Deus, e em todos os homens e mulheres de boa-vontade.
Mesmo em meio às tensões que vivemos, o Papa recorda as “as inúmeras obras de paz” que “testemunham a vocação natural da humanidade à paz”: “Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida” (nº 1). Meditando a bem-aventurança de Jesus, Bento XVI conclui “que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana” (nº 2). De um lado, “a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça. (...) Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício” (nº 3). Ao mesmo tempo, “para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito” (nº 3). O Papa sinaliza três canteiros de ação para os obreiros da paz, no atual momento da humanidade. Em primeiro lugar, a promoção da vida em todas as suas dimensões: “A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida” (nº 4). Em segundo lugar, a construção do bem da paz através de um novomodelo de desenvolvimento e de economia (nº 5). Em terceiro lugar, Bento XVI evoca a educação para uma cultura de paz, ressaltando o papel da família, das comunidades cristãs e também das instituições culturais, escolásticas e universitárias (nº 6). Finalmente, Bento XVI realça a importância de desenvolvemos uma pedagogia da paz, para “ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância”. Para isso, “é preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança” (nº 7) (Ver o texto na íntegra em http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html).
Para que a estas reflexões do Papa Bento XVI sejam acolhidas por todos, rezemos assim, utilisando as suas palavras:

Ó Deus de ternura, teu Filho Jesus proclamou felizes os obreiros da paz (Mt 5,9). Faze de nós, seus discípulos, “instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida”. Ilumina “os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz”. Inflama “a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua acção, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz” (7). Amém.
Com os votos de um ano novo abençoado!
D. Irineu Rezende Guimarães
monge beneditino, prior da Abadia Nossa Senhora, Tournay, França

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Carta Mensal - Dezembro de 2012

Tournay, 30 de novembro de 2012.

A vocês todos EM BUSCA DA PAZ,
                        Paz!
As manifestações recentes de violência ocorridas entre as forças israelenses e grupos palestinos nos convidam, mais uma vez, a rezar, neste mês de dezembro, pela paz na terra onde Jesus nasceu. Mesmo que um cessar-fogo se impôs, todos reconhecemos a necessidade de uma solução mais duradoura para este conflito que traz sofrimentos sem conta para estes dois povos.
A atual situação bem mostra os impasses do processo de paz. Enquanto Israel prossegue suas atividades de colonização nos terrritórios ocupados, as várias facções palestinas permanecem divididas, sem que nenhum progressos significativo nas negociações: israelenses e palestinos não realizam conversações de paz desde setembro 2010. Os palestinos recusam sentar na mesa enquanto a colonização prossegue. A aceitação pela ONU da Palestina como estado observador não membro, no dia 29 de novembro p. p., suscitou o anúncio, por parte de Israel, de três mil novas habitações. Os dois campos se contentaram com palavras sem concretizar, portanto, atos concretos em favor de um diálogo construtivo. A fragilização dos processos de paz deixa livre o campo aos partidários da violência, como efetivamente aconteceu nos últimos tempos. No entanto, uma solução em nível militar ou por enfrentamento de forças não contribui em nada para a resolução do conflito. Somente pela justiça, o respeitos dos direitos humanos, o diálogo e o respeito dos acordos internacionais poderá construir uma paz duradoura e estável.
Em nível internacional, algumas iniciativas merecem ser em assinaladas. Em 2002, foi constituído um grupo conhecido como “Quarteto”, composto pelos Estados Unidos, Rússia, União Européia e ONU, que se propõe como mediador. Em 2003, a Iniciativa de Genebra reuniu lideranças expressivas os dois lados. As alternativas sugeridas seguem a lógica “dois estados, dois povos”, com a partilha da soberania de Jerusalém, capital dos dois estados. Em nível local, existem vários grupos e atores que encontraram caminhos de uma convivência pacífica, como por exemplo iniciativas na área educacional ou dos movimentos de mulheres. Importantes são os movimento de desobediência civil, tanto entre israelenses como palestinos, que se recusam a participar de ações armadas ou violentas. De cada lado, existem movimentos organizados, mas também lideranças comunitárias, que têm optados por soluções pacíficas, inclusive fazendo saber às suas lideranças políticas de suas reivindicações. Sem dúvida nenhuma, a paz passa também pelo fortalecimento destas iniciativas locais e internacionais. A solução deste conflito que dura 65 anos será significativo não somente para os dois povos envolvidos, mas para toda a humanidade.
Para que a paz se concretize na terra onde Jesus nasceu, rezemos assim:

Ó Deus de ternura, que desejas  que teu povo habite um oásis de paz (Cf. Is 32,18), olha para a terra onde teu filho Jesus nasceu. Que os dois povos que lá habitam, israelenses e palestinos, possam encontrar caminhos de uma convivência pacífica, compartilhando a mesma terra, como dois Estados autônomos e respeitosos um do outro. Fortalece todas as pessoas e grupos que manifestam disposição ao diálogo e desarma os que ainda acreditam numa solução baseada nas arma. E que a paz prevaleça na terra! Amém.   
Com amizade,
 D. Irineu Rezende Guimarães
monge beneditino, prior da Abadia Nossa Senhora, Tournay, França