Tournay, 15 de maio de 2012.
A vocês todos EM BUSCA DA PAZ,
Paz!
Uma das coisas que mais me chama a
atenção, aqui na Europa, é a total reconciliação que se produziu entre
franceses e alemães. Dois países que,
por mais de setenta anos, se afrontaram em três grandes guerras (a de 1870,
quando os alemães anexaram as regiões entre França e Alemanha, Alsácia e
Lorena; a de 1914-1918, vencida pelos franceses com condições humilhantes para
os alemães; a de 1940-1945, que culminou na derrota do nazismo) e que por muito
tempo nutriram ódios profundos entre eles, são capazes hoje de viver
fraternalmente, sem nenhum ressentimento, nem rancor, cimentando a unidade
europeia. Nada, absolutamente nada, hoje, nos faz imaginar que estes dois
países nutriam mutuamente uma rivalidade mortal.
Várias pessoas e entidades
trabalharam para que isto acontecesse. Entre os homens de Estado se destacam: o
alemão Konrad Adenauer (1876-1967) e o
francês Robert Schuman (1886-1963), considerados hoje
como “pais da Europa Unida”, dados o empenho e a firmeza com que se dedicaram a
esta obra. Num plano mais espiritual, devemos lembrar o padre alemão Franz
Stock (1904-1948), pároco da Paróquia alemã de Paris a partir de 1933; durante
a ocupação foi capelão das prisões; após a guerra, reitor do seminário dos
prisioneiros alemães. Morreu de esgotamento como apóstolo da reconciliação e
paz. Importante atuação também exerceu o movimento católico “Pax Christi”,
fundado em 1945, com o nome de Movimento para a Reconciliação franco-alemã, por
iniciativa de Mgr. Pierre-Marie Théas, na época bispo de Montauban, França, e
por uma professora francesa, Marthe Dortel-Claudot: tendo se posicionado
claramente durante a ocupação nazista contra deportação de judeus, Mgr. Théas
assume, durante a libertação, ele prega o amor e a reconciliação com os antigos
inimigos.
Este exemplo da França e da Alemanha
nos faz acreditar na possibilidade de transcender os conflitos e de efetivar
uma profunda reconciliação, ultrapassando os preconceitos, os ódios, os
ressentimentos, os rancores e as divisões. Sobretudo, isto nos faz acreditar
mais do que nunca na paz; que ela é possível e não é uma quimera quando se
trabalha seriamente por ela, em todas sua dimensões: políticas, sociais,
econômicas, culturais, espirituais, religiosas, etc.
Tendo frente a nós este belo
testemunho, convido vocês a rezarem este
mês pela reconciliação entre povos e nações no mundo. Sobretudo, alguns
conflitos que parecem se perpetuar à causa da ausência de uma perspectiva de
conjunto para sua solução. Pensemos, entre outros: no conflitos entre
israelenses e palestinos; nos conflitos entre tribos na África; nos conflitos
entre facções no interior de vários países; nos conflitos e rivalidades entre
duas ou mais nações que se consideram inimigas. Rezemos especialmente por todas
pessoas e grupos que trabalham para superar estes ódios, frequentemente
considerados como ingênuos e sonhadores e, muitas vezes, como traidores do seu
grupo ou do seu povo.
Colocando nos mais profundo dos
nosso ser todas estas situações de divisão, rezemos assim:
Ó Deus de toda paz, tu enviaste o Cristo, nossa paz, para derrubar o
muro de separação existente entre os povos e fazer de toda a humanidade um só
povo, fazendo morrer o ódio (Cf. Ef 2,14-15), nós te pedimos por todas as
pessoas e grupos que se aplicam a trabalhar pela reconciliação e superar as
mais diversas situações de conflito: que não se deixem tomar pelo desânimos,
que resistam à críticas e perseguições, que tenham inventividade para propor
novos caminhos. Sobretudo, para que sejam animados profundamente do Espírito de
Unidade, este Espírito que reúne no Cristo a diversidade de culturas e visões.
Por Cristo, Senhor nosso.
Com amizade,
D. Irineu
Rezende Guimarães, O. S. B.