A PAZ E OS
IMIGRANTES
A todos vós que procurais a paz:
Paz
No
dia 19 de janeiro de 2014 celebramos o Centésimo Dia Mundial do Imigrante e do
Refugiado, com o objetivo de sensibilizar a consciência cristã e humanitária
para que tomem uma atitude em relação a estes homens e mulheres obrigados a
deixar suas terras, na procura de uma vida mais digna. E, no entanto, mesmo com
toda esta mobilização, o drama destas pessoas não parece chegar ao fim.
O maior símbolo desta tragédia é uma pequena ilha italiana - a
Ilha de Lampedusa – de 20,2 Km quadrados de superfície e em torno de 5 mil
habitantes. Estando localizada a meio caminho entre a Europa e a África, a ilha
se tornou uma porta de entrada para aqueles que desejam ir para Europa de modo
irregular. Dezenas de milhares de pessoas chegam ali sem a documentação
necessária, através de navios chamados de “navios da esperança”, pagando muito
caro por isso. Sem nenhuma segurança os imigrantes viajam amontoados como
sardinhas em lata. As estimativas falam que mais de 20 mil pessoas já perderam
a vida fazendo esta travessia. O caso mais recente é o do dia 03 de outubro de
2013, quando um navio que transportava 500 imigrantes pegou fogo e virou,
matando 350 pessoas.
A questão não é nada simples:
todos estes imigrantes devem ser acolhidos na Europa? Eles devem ser
reenviados aos seus países? Devemos deixá-los morrer? Em 2007 dois
capitães de barcos de pesca italianos foram levados à justiça por terem
socorrido os « navios da esperança », e foram acusados de terem
ajudado os imigrantes ilegais a entrar no território. No dia 08 de julho de
2013 o Papa Francisco foi para esta ilha manifestar a sua solidariedade para
com todas as vitimas, assim como manifestar sua solidariedade para com a
comunidade de Lampedusa que pratica incansavelmente a caridade para os mais
necessitados. Nesta ocasião ele nos lembrou da nossa responsabilidade
humanitária nesta situação: «Muitos de nós, e eu me incluo neste grupo, estamos desorientados, nós
não prestamos mais atenção ao mundo no qual vivemos, nós não nos ocupamos mais
do outro, nós não cuidamos do que Deus criou para nós e não somos mais capazes
de cuidarmos uns dos outros. E quando esta desorientação assume dimensões
mundiais, chegamos a tragédias como esta a que assistimos». Na sua mensagem
pela passagem do Dia do Imigrante e do Refugiado, publicada em 05 de agosto de
2013, ele nos convida a « passar de
uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse e de marginalização – que no
final das contas corresponde à « cultura da exclusão » - para uma
atitude que tenha como base a « cultura do encontro », a única capaz
de construir um mundo mais justo e fraterno, um mundo melhor ».
A paz mundial vai
depender em grande parte da solução e da resposta que nós daremos à situação
dos imigrantes e dos refugiados. Ou a paz vem para todos, ou a paz não virá para
ninguém: precisamos estabelecer uma ordem cosmopolita na qual o mundo se
transformará numa casa de todos e que todos sejam bem acolhidos em toda parte.
Com as
palavras do Papa Francisco em Lampedusa, assumamos
nossa parte de responsabilidade nesta questão :
Senhor, nós
pedimos perdão pela indiferença em relação a muitos irmãos e irmãs; Pai, nós te
pedimos perdão por aquele que se acomodou e se fechou no seu próprio bem-estar
que leva à insensibilidade do coração, nós te pedimos perdão por aqueles que
através de suas decisões ao nível mundial criaram situações que conduzem a
esses dramas. Perdão Senhor! Senhor, que ouçamos hoje também as questões:
« Adão, onde tu estás? », « Onde está o sangue do teu irmão? ».
Amem.
Com toda minha amizade,
Dom Irineu Rezende Guimarães,
monge beneditino da Abadia Notre-Dame, Tournay,
França.